sábado, 25 de abril de 2015

...

Chorou, cobrou saudades, disse que queria vê-lo...

Coitada...

Mas sabia ela que ele já não sentia falta nem de si mesmo...

...

   Então ele voou...

   E lá de cima viu todos, tão pequenos, tão mesquinhos, presos às próprias mágoas e ao egoísmo. Teve medo da arrogância, da altura e da queda de um voo daquela magnitude, mas, mesmo assim, não voltou atrás.

   Preferia morrer a continuar vivendo da mesma maneira como todos aceitavam viver, sendo menos da metade daquilo tudo que jamais pensariam ser capazes de ser.

   Então ele voou.

   E não voltou.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Frestas

Se sair, feche a porta.
Se fechar, não volte mais.

Nos cantos em que não vemos,
Se esconde a poeira dos dias
Que deixaram de existir.

Se esconde o pó do passado,
Marcado por nossos dedos
E pelos passos não dados.

Se sair, feche a porta,
Pois não há porque haver luz
Sobre aquilo que não quer se ver.

Se fechar, não volte mais,
Pois certas chaves custam caro,
E trocá-las, mais ainda.

Deixe as frestas para as janelas,
Pois se olhar é tudo o que deseja,
Portas serão desnecessárias.

Deixe que a maçaneta sirva
Apenas para tocar a mão
De quem não tem medo de entrar.

Se sair, feche a porta.
Se fechar, não volte mais.

domingo, 5 de abril de 2015

Abstinência

Te protegi dos monstros,
Fantasmas e demônios
Da ausência.

Fui anjo
O quanto pude ser,
Mas você acabou sendo
Apenas quem partiu.

Não há mais chance.
Não há mais crédito.

Da vontade de tentar de novo,
Restaram somente a decepção
E o desânimo.

Enfrentamos noites inteiras,
Ambos sob a mesma bandeira
Da luta contra a loucura,
A febre e a ilusão.

Segurei sua mão
Enquanto a minha tremia,
E mesmo com medo
De não saber o que fazer,
Fiz o que pensei não ser capaz.

Criamos um mundo
Que não esperou por nós,
E em nossos lugares,
Colocamos atores.

Esperei sua alucinação passar
Para descobrir que, no Fim,
Era de mim que você acordaria.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Improvável

Você sabe
Que um abraço é só um Momento,
Por isso tenta segurar o tempo,
O mais forte e o máximo que pode,
Pois não sabe se haverá outro igual.

Nossas dores
Resumidas no silêncio.

Nossos desejos
Subordinados ao que não podemos.

Sabemos o que queremos,
Mas ainda assim temos dívidas
Com o que nos prende ao passado
Ou ao presente, se preferir.

Mas a noite não mente,
E enquanto guarda segredos,
Sabe de tudo o que não fizemos
E do que poderíamos ter feito.

O beijo esquivado...
O carinho incompleto...

Seu cheiro não sai de mim,
Assim como a vontade de sentir mais.

Trocamos nossas mágoas e certezas
Por um instante de conforto.

Ah, se soubéssemos...
Que o dia seguinte seria tão confuso,
Talvez não quiséssemos o que houve
Ou o que, na verdade, não chegou a existir.

Mas não...
A verdade é que quisemos
E queremos.

Sob olhos atentos,
Disfarçamos intenções.

Há quem nos cuide.
Há quem nos julgue.
E em meio a tudo isso,
Há o que nos pertence,
Mesmo que ainda não saibamos,
Ou saibamos sem admitir.

E no resumo de tudo,
Só sabemos que queremos.

Do tanto que te quero,
Só resta saber
Se você quer o mesmo,
Mesmo que seja em segredo,
Pois das mentiras contadas a nós mesmos,
Estas são as mais mal disfarçadas.