sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Obrigado

Não tome minha quietude
Por indiferença.

Estou fugindo.
E quem foge, o faz em silêncio.

Se não te escuto,
É porque preciso.
E mais do que isso,
Preciso que entenda
Que essa fuga é só minha.



Corro do tempo
Passado, perdido.
Corro de tudo aquilo
Que não quis me acompanhar.

Quem ficou no que passou
Terá para sempre a companhia
Do que já fui um dia
E nunca voltarei a ser.

Paciência...
Recomeços são assim mesmo.

De certa forma, te protejo
De percorrer uma estrada inacabada
Na companhia de um desconhecido.

Paciência...
Um dia, quem sabe,
Quando eu souber aonde estou indo,
Te encontre pelo caminho.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Treze Dias


   Escreveu em francês porque achava bonito, embora não soubesse coisa alguma daquele idioma. Nada, é claro, que uma rápida olhada no dicionário e um pouco de raciocínio não pudessem resolver. Organizou a frase, separou as palavras, traduziu-as uma a uma e, por fim, reorganizou sua sentença. Logo, o papel estava recebendo aquelas palavras transformadas, carregadas de um sentimento que seria comum a qualquer falante de qualquer língua, em qualquer lugar do mundo, desde que, é claro, houvesse experimentado a sensação que ele experimentara ao viver a razão daquele bilhete.

   - Vous êtes mon meilleur repentance... - Disse ele, forjando um sotaque, enquanto lia o que havia escrito.

   De certa forma era algo bobo, e ele sabia, mas não se importou. Riu sozinho quando lembrou que, assim como ele, ela não falava francês, por isso teria de traduzir a frase. E isso, muito longe de tirar o impacto pretendido, traria um pouco mais de emoção. Seria como uma mensagem secreta, criptografada, que enche de brilho os olhos daquele que, orgulhoso de si mesmo, consegue decifrá-la, além, é claro, de se surpreender com o conteúdo que lhe foi revelado.

   Quando ela finalmente compreendesse a mensagem, ele já estaria longe. Teria partido na noite anterior à descoberta do bilhete, colocado cuidadosamente entre as páginas do livro que ela ainda estava lendo. Não havia como adiar a partida. Não havia como ficar. E sendo tão conhecedor de seus próprios sentimentos, brincou mais uma vez, na tentativa de aliviar a dor que começou a se formar no dia em que ele a conheceu: a de saber que seu tempo era curto, limitado e consciente de quando acabaria.

   - Você é o meu melhor arrependimento... - Ele sussurrou ao bilhete antes de dobrá-lo, tentando fixar o sentido original do seu sentimento naquele pedaço de papel.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Breve


Queria apenas um pouco mais
Daquilo que foi tão pouco
E tanto, ao mesmo tempo.

Do pouco tempo que resta,
Sei o que me espera.

A despedida me salvará
De querer o impossível,

Ainda que a ironia,
Tão sarcástica e decidida,
Cumpra rigorosamente seu papel,
Trocando o tempo vivido
Pela vontade de ter mais tempo.

Borboleta

   Ela levou um tapa na cara daquele papelzinho meio amassado, trazido pelo vento, em um voo tão errante e, ao mesmo tempo, tão certeiro como o de uma borboleta. Em letras quase apagadas pelas dobras desfeitas, o bilhete, sabiamente, dizia:

   Dor de amor é saudade. Qualquer outra é apenas engano.