terça-feira, 25 de março de 2014

...

 - Você tem os olhinhos tristes mais lindos que eu já vi... - Disse ele, cerrando os próprios olhos, enquanto a olhava.

E disse assim, como se a tristeza fosse algo bonito.
Como se ela, aliás, tivesse escolhido ser triste.
Como se alguém, aliás, escolhesse ser...

Mas ao menos ele era sincero. Seus olhos eram tristes, mesmo.

E lindos. Lindos, mesmo.

sábado, 22 de março de 2014

Esquinas

Em cada esquina, um fantasma
De eras passadas.
De tempos idos.

São medos antigos
Em forma de sombras.

São medos tangíveis,
Sensíveis
E tocantes.



O vento sopra frio e carregado
De verdades sussurradas.

Talvez o tempo,
Cobrando seu preço...

Talvez o preço
Do tempo perdido...



Em cada esquina, um passado,
Imediatamente relegado
A cada nova rua percorrida.

E em cada muro,
No vazio do branco,
O mesmo verso escrito.

Algum poeta anônimo,
Sabedor da dor alheia,
Gravou, em letras escuras,
Uma sentença tão certa
Quanto assustadora:

"Dos restos incompletos
De caminhos sem destino,
Nascem os mortos
E seus fantasmas."

sábado, 8 de março de 2014

Deixa

Deixa eu te levar pra casa
Ou, ao menos, pra um passeio.

Deixa...

Deixa eu te ligar
Quando o tempo fechar
E a chuva for quase certa.

Deixa eu aparecer do nada,
Te trazendo um guarda-chuva
E um daqueles abraços
De quem não quer se molhar.

Deixa...

Que o que é bom costuma durar pouco,
E nem sempre chegar a acontecer.

Que tantas histórias terminam
Antes de você perceber.

Deixa...

Deixa eu fazer de conta
Que não sabemos como as coisas são,
E que, apesar de tudo, vai ser sempre assim.



Nós, que já deixamos tantas coisas,
Por que não deixar mais uma
Em meio a tantas outras?



Deixa...

Deixa acontecer
O andar de mãos dadas.
As vitrines, com nossa futura casa.
O futuro, com nós dois nele.

Deixa a incerteza cumprir seu papel,
Indo de frios na barriga a certezas confirmadas.

Deixa...

Porque, cedo ou tarde, alguém vai aparecer,
Para mim e para você.

Então, deixa...

Deixa eu ser eu,
E você ser você.

Deixa...

quarta-feira, 5 de março de 2014

Em Paz

Deixou de pedir um abraço,
Pois não queria ser fraco.

Acabou morrendo sozinho...

Em sua lápide,
No frio e lustroso mármore,
Aquilo que ninguém leria
Mais de uma vez.

Aquilo que alguns não leriam,
Sequer, uma única vez.



Deixou de viver,
Com medo do que viria amanhã.

O amanhã, por sua vez, acabou não vindo...

Em sua lápide,
No frio e lustroso mármore,
Uma eternidade, longe de ser a sua,
Eternamente gravada.



Em suas palavras,
Se o tempo houvesse permitido,
Teria dito:

"A vida decide por quem se demora a decidir..."