quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Outro

Não há nada a fazer
Quando a decisão não parte da própria vontade.



Tão simples
E tão difícil.



O que se sente, já não importa.
Não há moeda de troca.
Não há valor algum
Que valha alguma coisa.

A sinceridade nem sempre será o bastante,
Pois entre aqueles que foram amantes, ironicamente,
Não existe consideração.

Resta, então, agarrar o silêncio,
E cerrando punhos e dentes,
Segurar toda e qualquer palavra.

Deixar cair a lágrima,
Pesada e silenciosa,
Que aos poucos apodrece a casca
E petrifica o cerne.

Lamentar a mágoa,
Que enferruja as grades do peito,
Corroendo ferro e carne,
Enfraquecendo estruturas e proteções.

Deixar que o tempo faça justiça,
Levando o que ainda resta,
Da mesma maneira como, um dia,
Ele trouxe o que faltava.

Observar, de longe, uma nova vida.
Tentar reconstruir a própria estrada.

Livrar-se das sobras insubstituíveis
E dos restos de valor inestimável.

Jogar fora, com uma certeza forjada,
Tudo o que ainda faz falta.



Saber que aqueles novos planos,
Tão perfeitos para ambos,
Não incluem ideias antigas.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

...

Como me disse alguém que há tempos não vejo...

Quem muito se ausenta, um dia deixa de fazer falta.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Mas

Foi bom,
Mas acabou.

Acabou,
Mas a vida segue.

Mas nós não queremos que siga.

Mas ela segue sem nos dar ouvidos.



Nós nunca traímos.
Nós nunca mentimos.
Nós sempre amamos,
Mas acabou.



Mas...



Nós quisemos tanto,
E havia tanto o que querer
E mostrar,
Mas o tempo preferiu brincar.

E agora, livre de questionamentos,
Já não há mais nada,
Exceto aquilo que se sente sozinho.
 
Saudade e esperança.

Uma esperança, aliás.
Sem fundamento algum,
Pois já foi dito,
Com todas as letras,
Que o que tinha de ser, já foi,
Mas ainda assim,
Desistir nos é impossível.

Mas...

Passou o tempo.
E pelo tempo, passou a vida.
Pela vida, passaram pessoas.
Passaram histórias.
Passaram momentos.

Mas algo sempre nos disse
Que certas coisas não passam.

Que certas coisas, aliás,
Podem ser qualquer coisa,
Menos passageiras.

Mas eu duvido.

Depois de tudo isso,
O que sobra já não é suficiente.

Recomeços já não servem.
E começar tudo de novo
É algo que poucos querem.

Por isso, ciente de tudo,
Duvido muito, mas... confesso...



De vez em quando eu acredito.

domingo, 9 de dezembro de 2012

Sentimentos

Em cada uma das mãos,
Possuo um sentimento,
E um destes, por sua vez,
Servirá de norte para a razão.

Em um deles há o amor,
O perdão e o carinho.

No outro, a mágoa,
O sofrimento e o rancor.

O primeiro é peito aberto.
Começar do zero.
O passado em seu lugar.

O outro, entretanto, é pesado.
Daqueles que constróem escudos.
Dos que, feridos, empedram o coração.

Ambos dão forças, é verdade,
Mas de fontes diferentes.

E as medidas, embora as mesmas,
Agem de formas distintas,
Pois enquanto um traz a leveza,
O outro blinda a alma.

Tudo depende de uma resposta.

O tempo,
Que de tanto ter passado,
Hoje permite essa estranha situação.

A dor nos faz escolher o que sentir.
Contrariando o comum acordo,
Cria caminhos diversos.

E o sentimento,
Certo e incerto ao mesmo tempo,
Divide-se vorazmente,
Enquanto os pensamentos tecem redes,
Onde repousam, serenamente,
Os pesos de cada decisão.



Em cada uma das mãos,
Possuo um sentimento,
E um destes, por sua vez,
Servirá de norte para a razão.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Desapego

O desapego custa caro.

Um bom sentimento.
Uma amizade verdadeira.
Um passado inteiro.

Preços incertos e abusivos.



Há, é claro, quem chame de egoísmo,
Pois grandeza de caráter,
E de espírito,
Seria seguir em frente, tranquilo,
Sem jamais olhar para trás.

Mas quem diz isso, talvez,
Nunca tenha realmente sentido
Tudo aquilo que se sente
Quando a alma se parte ao meio,
Deixando um dos pedaços perdido
E o outro a apodrecer.



A coragem, da qual tanto se fala
E que se faz tão necessária
Para, enfim, deixar partir,
Não é nada além de desespero.

Pois coragem, mesmo, houve enquanto existiu esperança.
Enquanto a insistência, surda aos apelos da dor,
Acreditou que era possível.

Mas a perseverança,
Sobrepondo-se ao amor-próprio,
Resistiu por muito tempo,
Até que, em meio ao sofrimento,
Sucumbiu à revolta.

E a superação,
Mentira carinhosa, pintada de honra,
Preencheu o coração daqueles que ficaram.



O desapego, deixando de ser escolha,
Passa a ser imposição.



Da mágoa, restou a força.

Do amor, o ódio sereno.


Fotos rasgadas.
Lembranças destruídas.
Troféus de uma vitória amarga e silenciosa.

Sobrou o olhar duro e determinado.
O rosto fechado.
O peito vazio.

O que se perdeu, já não importa,
Pois o resto é apenas desapego.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Fim da Festa

Os copos sujos e as mesas bagunçadas.
Toalhas brancas, manchadas de banalidade.

Sobraram cadeiras vazias.
Sobrou o chão cheio de papel picado.
Sobrou você, atônito, parado em meio ao salão vazio,
Tentando entender como pôde ter sido tudo tão rápido.

Sobrou você, tentando entender
Por que ninguém ficou para ajudar.

Sobrou você, tentando entender
O porquê de ter dado uma festa que você, na verdade, nunca quis dar.

Sobrou você.



A festa termina.
Todos vão embora.

Ficam as fotos,
Os sorrisos forçados,
As lembranças que serão esquecidas no dia seguinte.

Convites não enviados.
Amigos não convidados.
A lista dos excluídos.

A decoração,
Feita de isopor, balões e abraços, vira lixo.
E você, parte da decoração.



Ainda na boca, o gosto amargo dos doces e salgados.

Ressaca de álcool e decepção.
 


Há os que reclamam da comida.
Há os que reclamam da falta de espaço
E da simplicidade do lugar.

Há os que, apesar de todo o seu esforço,
Irão debochar do seu desempenho como anfitrião.

Risinhos abafados, enquanto se dirigem à saída.



Sobrou você, no seu egoísmo inocente, esperando consideração,
Enquanto viu todos irem embora, preferindo a liberdade.



Sobrou alguém, perto dali, sozinho em casa.



Sobrou você.