Olá.
Como vai?
Tudo bem?
Minha vida vai bem,
Por isso não tenho perguntado da sua.
Enfim...
Acho que é assim mesmo.
Essa coisa meio egoísta,
Que não chega a ser maldosa,
De não querer ouvir os problemas,
De quem quer que seja,
Quando tudo está dando certo.
E sim...
Sei que agindo assim,
Não há chance alguma de voltar.
Sei que o que fiz, não se faz, mas,
Mesmo assim,
Fiz.
E sim,
Faria outra vez.
No fundo, sei que você entende.
Prefiro acreditar que você faria o mesmo,
Ainda que, sinceramente, eu não acredite.
Mas era isso, como se diz.
Só passei para saber como você está.
Não que eu quisesse saber.
Não que você fosse me dizer.
Mas de qualquer maneira,
Eu precisava perguntar.
Um beijo,
Ou um abraço.
Ou tanto faz.
E antes que eu esqueça,
Até mais.
A penumbra é o caminho por onde anda o furtivo, e os pensamentos, tal como as pessoas, tambêm possuem sombra.
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
Intocável
Não se iluda com o intocável.
O que está longe
Deve ser apenas observado.
O tempo passou,
E com ele, todas as coisas passaram.
Ficaram os vultos, as sombras,
As silhuetas de um antigo presente
Que já não existe mais.
Não se iluda.
Com os risos e com os abraços.
Com os conselhos de quem ainda nada viveu.
Com as festas que não foram feitas,
Mas que hoje parecem tão vivas
E ávidas por acontecer.
Não se iluda
Com a história de que a vida deixa para dar depois,
O que ela não pôde dar no tempo certo.
Pois assim como tudo acontece por uma razão,
O que não acontece segue o mesmo princípio.
Se não houve, não era para ter havido.
Por isso, não se iluda.
O tempo só sabe ser amigo
De quem sabe se posicionar diante dele.
O que está longe
Deve ser apenas observado.
O tempo passou,
E com ele, todas as coisas passaram.
Ficaram os vultos, as sombras,
As silhuetas de um antigo presente
Que já não existe mais.
Não se iluda.
Com os risos e com os abraços.
Com os conselhos de quem ainda nada viveu.
Com as festas que não foram feitas,
Mas que hoje parecem tão vivas
E ávidas por acontecer.
Não se iluda
Com a história de que a vida deixa para dar depois,
O que ela não pôde dar no tempo certo.
Pois assim como tudo acontece por uma razão,
O que não acontece segue o mesmo princípio.
Se não houve, não era para ter havido.
Por isso, não se iluda.
O tempo só sabe ser amigo
De quem sabe se posicionar diante dele.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Diferente
De todas as dores imaginadas,
A pior foi a de não sentir mais nada.
Ao contrário do que se pensou,
Os olhares não se cruzaram.
Desconfortavelmente,
Resvalaram um no outro
E foram cair distantes dali.
As palavras, até então guardadas,
Derreteram-se em uma repugnância amarga,
Selando o silêncio de cada um.
De todas as vontades pretendidas,
Restou apenas a de ir embora.
De tudo o que se esperou,
Nada aconteceu.
Enfim, nos reencontramos.
A pior foi a de não sentir mais nada.
Ao contrário do que se pensou,
Os olhares não se cruzaram.
Desconfortavelmente,
Resvalaram um no outro
E foram cair distantes dali.
As palavras, até então guardadas,
Derreteram-se em uma repugnância amarga,
Selando o silêncio de cada um.
De todas as vontades pretendidas,
Restou apenas a de ir embora.
De tudo o que se esperou,
Nada aconteceu.
Enfim, nos reencontramos.
sábado, 14 de dezembro de 2013
Depois
Gravamos nosso filme em preto e branco
E deixamos para colorir depois.
Mal sabíamos nós
Que a vida nem sempre dá tempo
De passar a limpo os rascunhos
De todos os nossos planos.
Mal sabíamos nós
Que personagens, cedo ou tarde,
Sempre acabam saindo de cena.
Folhas soltas não fazem livros,
Tal como esboços não são desenhos.
Se soubéssemos antes o que só hoje sabemos,
Talvez não tivéssemos perdido tanto tempo
Tentando compreender os estranhos motivos
Pelos quais vontades e promessas
Nem sempre viram histórias.
Mas não...
Mal sabíamos nós
Que o que um dia se pensou ser único e infinito,
Era apenas parte de um caminho qualquer,
Com começo, meio e fim,
Assim como qualquer caminho.
O depois virou lugar,
E nós, enfim, chegamos.
E deixamos para colorir depois.
Mal sabíamos nós
Que a vida nem sempre dá tempo
De passar a limpo os rascunhos
De todos os nossos planos.
Mal sabíamos nós
Que personagens, cedo ou tarde,
Sempre acabam saindo de cena.
Folhas soltas não fazem livros,
Tal como esboços não são desenhos.
Se soubéssemos antes o que só hoje sabemos,
Talvez não tivéssemos perdido tanto tempo
Tentando compreender os estranhos motivos
Pelos quais vontades e promessas
Nem sempre viram histórias.
Mas não...
Mal sabíamos nós
Que o que um dia se pensou ser único e infinito,
Era apenas parte de um caminho qualquer,
Com começo, meio e fim,
Assim como qualquer caminho.
O depois virou lugar,
E nós, enfim, chegamos.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Sempre
Quando morrer,
Tenho para mim que andarei por aqui,
Por estas ruas,
Por onde tanto andei quando ainda vivo.
O ranger de placas e portões entreabertos.
O uivo do vento em alguma esquina vazia.
As horas quietas.
A noite fria.
Dessas coisas estranhas, quase tétricas,
Tão comuns aos fantasmas e suas tristezas,
Em muitas delas, ainda vivo, me vejo pleno,
Abraçado por uma naturalidade assustadora.
Se não fosse pela dor, aliás, poderia até me pôr em dúvida
Se, por acaso, já não estou morto...
Quando morrer,
Tenho para mim que andarei por aqui,
Atravessando paredes, espiando o sono alheio.
Zelando por quem chorou e assombrando quem sorriu.
E ainda que fantasmas não façam barulho, andarei pé por pé.
Mania dos vivos, na verdade,
Assim como abraços e beijos de despedida.
Quando morrer,
Tenho para mim que andarei por aqui,
Para sempre,
Procurando o que perdi
E o que nunca encontrei.
Tenho para mim que andarei por aqui,
Por estas ruas,
Por onde tanto andei quando ainda vivo.
O ranger de placas e portões entreabertos.
O uivo do vento em alguma esquina vazia.
As horas quietas.
A noite fria.
Dessas coisas estranhas, quase tétricas,
Tão comuns aos fantasmas e suas tristezas,
Em muitas delas, ainda vivo, me vejo pleno,
Abraçado por uma naturalidade assustadora.
Se não fosse pela dor, aliás, poderia até me pôr em dúvida
Se, por acaso, já não estou morto...
Quando morrer,
Tenho para mim que andarei por aqui,
Atravessando paredes, espiando o sono alheio.
Zelando por quem chorou e assombrando quem sorriu.
E ainda que fantasmas não façam barulho, andarei pé por pé.
Mania dos vivos, na verdade,
Assim como abraços e beijos de despedida.
Quando morrer,
Tenho para mim que andarei por aqui,
Para sempre,
Procurando o que perdi
E o que nunca encontrei.
domingo, 3 de novembro de 2013
Um Pouco Mais
Não vá ainda, por favor.
Espere um pouco mais.
Se você for embora agora,
Exatamente agora,
Talvez se arrependa depois.
Você ainda não sabe, mas vai acabar descobrindo
Que toda e qualquer partida deve, também, ser medida
Por aquilo que ainda se sente,
E não apenas pelo que se deixou de sentir.
Do contrário, o sentimento se transforma,
Pois o amor, quando verdadeiro, não morre,
Mas passa a ser prisioneiro eterno
Do cárcere que a mágoa constrói
E a dor sustenta.
Para quem tinha algo a dizer,
Quem se vai sem dar ouvidos
Torna-se apenas arrependimento,
E o que deveria viver na saudade,
Acaba morrendo como tempo perdido.
Por isso eu digo
E insisto.
Não vá ainda, por favor.
Respeite o tempo que o tempo pede
Para as diferenças de cada um.
Você vai perceber, ainda que tarde demais,
Que o seu momento de partir
Não era o meu de ficar sozinho.
Você vai perceber, ainda que tarde demais,
Que o seu momento de precisar também chegará
E que, ainda assim, o seu alguém terá partido.
Você vai entender, ainda que tarde demais,
Tudo o que eu queria ter dito.
Espere um pouco mais.
Se você for embora agora,
Exatamente agora,
Talvez se arrependa depois.
Você ainda não sabe, mas vai acabar descobrindo
Que toda e qualquer partida deve, também, ser medida
Por aquilo que ainda se sente,
E não apenas pelo que se deixou de sentir.
Do contrário, o sentimento se transforma,
Pois o amor, quando verdadeiro, não morre,
Mas passa a ser prisioneiro eterno
Do cárcere que a mágoa constrói
E a dor sustenta.
Para quem tinha algo a dizer,
Quem se vai sem dar ouvidos
Torna-se apenas arrependimento,
E o que deveria viver na saudade,
Acaba morrendo como tempo perdido.
Por isso eu digo
E insisto.
Não vá ainda, por favor.
Respeite o tempo que o tempo pede
Para as diferenças de cada um.
Você vai perceber, ainda que tarde demais,
Que o seu momento de partir
Não era o meu de ficar sozinho.
Você vai perceber, ainda que tarde demais,
Que o seu momento de precisar também chegará
E que, ainda assim, o seu alguém terá partido.
Você vai entender, ainda que tarde demais,
Tudo o que eu queria ter dito.
quinta-feira, 17 de outubro de 2013
Alguém
"Quero alguém que me ame como eu sou, e não como
gostaria que eu fosse..."
Enquanto terminava de se arrumar, postou a frase em seu
perfil na rede social. Entre uma passada de batom e uma mexida no cabelo, ela
espiava a tela do computador, à espera dos comentários e da aprovação dos
amigos virtuais.
Sem levantar da cadeira, inclinou o corpo para o lado e
ficou de frente para o espelho da penteadeira. A maquiagem, pesada e forte,
fingindo naturalidade, estava pronta, mas ainda faltavam as lentes de contato.
Mesmo depois de alguns meses de uso, seus olhos ainda não estavam acostumados a
elas, e ainda que sempre ardessem por vários minutos depois de colocá-las, ela
nunca saía sem as lentes. Olhos castanhos eram muito comuns e sem graça, e
morenas de olhos verdes eram irresistíveis, dizia o site de moda e beleza que
ela costumava acompanhar.
Por fim, levantou-se e foi até um espelho grande, preso
atrás da porta do quarto. Com os olhos ainda vermelhos e lacrimejantes, deu uma
última olhada em si mesmo. O vestido, tão apertado e desconfortável quanto seus
sapatos, definia exageradamente seu corpo e ajudava a esconder a barriga saliente
que ela acreditava ter. Não gostava muito daqueles modelos curtos e justos,
incômodos para vestir, sentar e caminhar e que sempre lhe davam a sensação de
estar mostrando mais do que deveria ou gostaria, mas de qualquer maneira, era
preciso. A beleza não deve ser escondida, segundo aquele mesmo site.
Na verdade, ela não estava a fim de sair. Pensou em ligar
para as amigas e dizer que não poderia, que precisava estudar, que estava com
cólicas, mas ainda que tudo fosse verdade, – e era - achou melhor não recusar,
afinal, é preciso socializar-se. Não valia a pena arriscar perder bons amigos e
companheiros de balada por tão pouco, quase nada.
O som de uma buzina a tirou de seus pensamentos. Os amigos
haviam chegado. Novamente, olhou-se no espelho, puxou o vestido um pouco mais para
baixo, tentando cobrir o que fosse possível de suas pernas, mesmo sabendo que
ele teimaria em subir novamente, e saiu do quarto. Ao fechar a porta, percebeu
que o computador ainda estava ligado. Rapidamente, voltou, aproveitou para dar
uma última olhada nas atualizações e depois o desligou.
A sua frase já não estava mais na tela. Fotos, citações e
pensamentos de outras pessoas já haviam ocupado seu lugar, mas isso não
importava, pois ela sequer lembrava que havia escrito e nem o que havia escrito
há alguns minutos.
- Quero alguém que me ame... – Disse ela, baixinho, para si
mesma, guardando apenas a parte que conseguiu lembrar e que parecia realmente
importante naquela frase.
terça-feira, 15 de outubro de 2013
Menina
Solte o choro, menina.
Abra o peito.
Que não é feio chorar por um bom motivo.
Que os amigos, aliás, estão aí para isso.
Um dia você vai ver
Que nem todas as lágrimas desceram tristes.
Que o choro, às vezes, vem antes do fim,
Antecipando ausências e lembranças
De um tempo que ainda não terminou.
Solte o choro, menina,
Porque viver é isso mesmo.
Entre finais indecisos e recomeços incertos
Há tudo aquilo que já é eterno.
Saudade, enfim, é apenas um nome bonito
Que damos a uma vida bem vivida.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
Velho Amigo
Ele abraça segurando punhais
E sorri ocultando intenções.
Em suas palavras de apoio,
Assim como na mão estendida,
A falsa humildade domina,
Nutrindo a própria ambição
E cobiçando a ruína alheia.
Em roda de amigos, arreganha dentes e elogios,
Mas nos breves momentos de silêncio,
Percebidos apenas pelos mais atentos,
Ou ressabiados, talvez,
Afoga-se com o próprio amargo
Que brota e lhe amarga a língua.
Velho amigo, velho amigo...
Por que é assim comigo?
Se o que já tem, reconheço,
É muito mais do que tenho,
E se o pouco que tenho, como bem sabe,
Pouco lhe interessa?
Não entendo, meu amigo,
Como pode querer o que não precisa,
Apenas para saciar a vontade doentia
E calar, de seus próprios pensamentos, a intriga
De que o sucesso do próximo o ameaça.
Não entendo, meu amigo,
Como alguém que já tem tudo,
Perde o tempo que não tem,
Almejando chegar onde já esteve.
Velho amigo, velho amigo...
Escute o que eu digo...
Já ouvi, e não foram poucas as vezes,
Sobre aqueles que, por medo do furto improvável,
Dormiam com uma faca sob o travesseiro
E acabaram esfaqueando a si mesmos, durante o sono,
Defendendo-se do medo de que seus sonhos,
Inexpugnáveis, diga-se de passagem,
Fossem roubados.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Mesa Para Um
Na vitrine da loja, a mesa posta.
Colheres, pires e xícaras vazias,
Esperando o café no meio da noite.
Lembrei da vida que, um dia, pensei em termos
E dos planos que fiz sem você saber.
Lembrei que, há tempos, em meu silêncio habitual,
Confundido, talvez, com descaso,
Compartilhei do seu desejo de futuro.
Hoje, no entanto, são apenas cenários.
Salas aconchegantes e quartos arrumados.
Atrativos para compradores e futuros casais.
Nossa casa, ainda que em pedaços e nunca construída,
Não deixou de existir.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
...
Ainda que a poesia insista em dizer o contrário, há coisas que só podem ser feitas uma única vez.
Nascer, viver, morrer e confiar.
Nascer, viver, morrer e confiar.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Por Enquanto
Relendo aqueles velhos textos,
Percebo que você ainda está longe
De ser uma boa lembrança.
Você, por enquanto, não é saudade.
Apesar de tudo o que foi vivido,
Ainda não há o bastante
Para moldar um daqueles sorrisos tristes,
Carinhosos e sinceros,
Ao encarar, mesmo sem querer, uma foto antiga
Ou uma carta cheia de juras mortas.
Ainda não sei dizer o que você é,
Mas sei que, por enquanto, não consigo te resumir
Em um fechar de olhos, um instante cabisbaixo
E um sorriso discreto, sibilado, expirado entredentes,
Daqueles que consolam e denunciam
Quem se conformou com uma partida.
Você, por enquanto, não é saudade.
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Tempos
São tantos relógios nas paredes,
Tantos tempos diferentes,
Que não sei a qual obedecer.
Enquanto olho a noite pela janela,
Esperando que alguma estrela se mova,
Escuto os cantos de todos os ponteiros.
As horas e os minutos são silenciosos,
Mas os segundos, esses não.
Esses fazem questão de serem ouvidos.
Entre seus passos, tão ordenados,
Um leve descompasso é o suficiente
Para dar vida à cacofonia do silêncio.
Enfim, compreendo.
Não há tempo certo
Que ordene, por igual, os acontecimentos
Na vida de cada um.
Não há regras sobre quando acontecer.
E agora, sabendo disso, desconfio
Que é este o lugar onde a tristeza passa suas noites,
Devorando sonos tranquilos,
Planos ambiciosos, mas ingênuos,
E futuros promissores.
O escuro da sala me abraça,
Fazendo as vezes de quem foi embora.
Não há a força, o carinho, a palavra amiga.
Não há a confiança que, um dia, você depositou em alguém.
Há apenas você e o tempo,
Amparados pela passagem do que houve
E do que ainda está por vir.
Há apenas você, esperançoso e consciente
De que o tempo, na verdade, apenas guardou seus momentos
Para entregá-los quando, finalmente,
Você estivesse pronto para recebê-los,
Sem o risco de tudo ser jogado fora
Mais uma vez.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
Sobra
Não sei,
Mas quero saber se você é
Aquilo que penso ser.
Se é o que eu quero que seja,
Ou o que eu precisava que fosse agora.
Eu só quero saber.
Mas se não for, tudo bem...
Dizem que não há tempo perdido
Quando se busca o que ser quer,
Mesmo que não se tenha certeza.
Dizem, aliás, que ter certeza não é garantia.
Que estar certo é escolher uma dúvida,
Fechar os olhos e abraçá-la com toda a força,
E só soltá-la quando o acerto virar erro,
Ou quando o receio virar sorriso.
E sobre o tempo, dizem que o que se perde
É aquele que se guarda,
Pois assim como a vida, que não volta,
Momentos morrem e escorrem,
Mesmo pelas mãos mais cerradas.
Por isso é que eu insisto tanto.
Como você tão bem sabe, nós podemos perder tempo sozinhos,
Assim como já perdemos tanto,
Guardando para depois.
E já que estamos aqui, tão perto,
Vamos gastar algumas horas, ou dias,
Ou anos.
Assim como você,
De vontade ou arrependimento,
Sei o quanto sobra
E sei que não é pouco.
Mas se não for, tudo bem...
Eu só quero saber
Se é você.
A vida só pode me tirar aquilo que ainda não Vivi.
domingo, 15 de setembro de 2013
Dessas Coisas da Vida - IV
Não posso dizer que escolhi a solidão, tampouco, que ela me escolheu.
Acho que é mais sensato pensar que nós nos encontramos. Descobrimos, um no outro, interesses em comum, necessidades, complementos.
Ainda que tolha, em partes, a liberdade, seu abraço é carinhoso, reconfortante. Nessa menina de olhos tristes e poucas palavras, encontrei o carinho que alma alguma, até então, conseguira me dispensar. Mais do que isso, em seus braços encontrei a aceitação, sem perguntas ou julgamentos, sempre tão desconfortáveis a quem tem algo que não deseja mostrar. Nossa relação, por assim dizer, é feita de silêncio e cumplicidade, e para quem deseja apenas sentir, e não falar, não há nada que possa definir de maneira mais exata o sentido da perfeição.
Nossas diferenças, quando afloram, são discutidas na reflexão. Penso e lembro que escolhi estar aqui, junto dela, do mesmo modo como ela sabe que está comigo porque quer.
Somos, senão, uma simbiose sentimental.
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Amigo
Essa conquista é sua,
Meu amigo.
Que com explicações tortas,
Simplesmente foi embora
Quando eu mais precisei.
Marinheiro novato,
Abandonou o navio, temendo o naufrágio,
Sem sequer ter a certeza
De que ele viria a naufragar.
Sua covardia, meu amigo,
Me alimentou por um bom tempo.
Os amigos que você tinha ao partir,
Postos, sem cerimônia, em meu lugar,
Hoje eu também tenho.
E ainda que agora os tempos sejam outros,
Sua ausência, por vezes, incomoda.
Sua traição, sem tréguas, desde então,
Reacende, dia após dia, a mesma mágoa.
Traição, aliás, vestida de descaso,
Pois quem corre sem olhar para trás,
Sabendo das coisas que deixa,
Veste o manto do traidor
E acostuma-se a usá-lo.
Ah, amigo...
Como eu queria que me visse agora.
Como eu queria que visse
Que cheguei onde, um dia,
Imaginei estarmos.
Nossas vitórias, veja só,
Não são mais nossas.
Não há glória alguma a ser dividida.
E sobre a saudade, como já disse,
Às vezes ainda bate,
Mas quando lembro de suas palavras,
A velha cicatriz, sempre recente,
Põe-se a latejar.
A carne, ainda viva,
Chora gotas de desgosto,
Num pranto lento e silencioso,
Em lágrimas de um sangue amargo.
Essa vitória, amigo, é para você,
Que há tempos deixou de merecer
Qualquer coisa maior ou além
De um lugar qualquer no passado.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Anacrônico
Nasci velho.
Nasci para ser velho.
Quando criança,
Ao ouvir o que o vento dizia,
Tive certeza disso.
A pressa da juventude,
Como os velhos tão bem sabem,
Ensurdece os desatentos
Para as coisas tênues da vida.
Os anos,
Ainda que não vividos,
Sempre estiveram aqui,
Presentes no corpo
E vivos na mente.
Pensamentos complexos.
Reflexões a frente do próprio tempo.
Sei que minha alma
Pertence ao entardecer da vida,
Mas isso, de maneira alguma,
Me entristece ou apavora,
Pois quem, de antemão,
Conhece o fim da jornada
Não passa pela vida com medo,
Fugindo da maior das incertezas.
Ainda que peque na aparência,
Nada supera a beleza
Que a experiência traz no rosto.
Ainda que peque pelo atraso,
Nada supera a importância
Do momento em que, enfim,
O tempo encontra seu lugar
Na paz de um coração aflito.
sábado, 7 de setembro de 2013
Dessas Coisas da Vida - III
E ele, afinal, era honesto ou preconceituoso? Louvável ou desprezível?
Não se permitia ser de ninguém, pois não queria ninguém tendo de suportar e conviver com seus defeitos. Defeitos, os quais, ele próprio não aceitava e nem suportava.
Quando era questionado sobre isso, entretanto, dizia, sem disfarçar, a verdadeira razão para tanta reclusão. - Se fosse eu o normal, não iria querer alguém assim, como eu, com tantas imperfeições.
E ele, afinal, era honesto ou preconceituoso? Louvável ou desprezível?
terça-feira, 3 de setembro de 2013
Dessas Coisas da Vida - II
Então, meu amigo, levante dessa cadeira e vá lá agora...
Sim, eu sei que já são três e pouco da madrugada, mas, mesmo assim, vá lá... Acorde a sua mãe, o seu pai... Acorde quem você quiser, ou quem você tiver, mas acorde!
Essa história de que amanhã ou depois eles podem morrer é conversa fiada, e sabe por quê? Porque amanhã ou depois, não é que eles poderão estar mortos: Eles estarão mortos.
E sim, isso é uma certeza.
Se você, no auge dos seus vinte e três anos, ainda não percebeu ou aceitou isso, agora é a hora.
Então, apenas pra ter a certeza de que você entendeu, eu repito:
Seus pais, seus irmãos, seus amigos e seus amores, ao contrário do que você pensa, não correm o risco de morrer. Eles, simplesmente, vão morrer, e você não pode fazer nada a respeito disso.
Nada.
Boa sorte, meu amigo.
Ah, e antes que eu esqueça, bem vindo à vida.
Acho que o erro de todo mundo é tratar a morte como uma possibilidade, e não como uma certeza, que é o que ela realmente é.
Essas verdades óbvias que a gente teima em esquecer.
Essas verdades óbvias que a gente teima em esquecer.
Ou ignorar.
domingo, 1 de setembro de 2013
Dessas Coisas da Vida - I
- E aí, rapaz! Há quanto
tempo! Como é que tá? Caramba, tu tá ficando careca, hein? Hahahahahaha!
E assim se seguia. Sempre que
eles se encontravam, o amigo vinha com a mesma observação. Sim, ele estava
ficando careca, e apesar de ainda não ser um idoso (aliás, estava longe disso),
os anos avançavam inescrupulosamente sobre ele. Um pouco da maldita genética e
muito, muito estresse. É claro que, para aquele que profere a ofensa, o que
importa é encontrar um defeito alheio para sentir-se melhor com os próprios
defeitos. Pouco importa os maus bocados pelos quais o outro passou.
- Hahahaha... Pois é... A
idade chega pra todos, né?
- Depende, depende! Eu, por
enquanto, estou tranquilo! - E o amigo passava a mão nos cabelos que, ao contrário
dos seus, não caíram.
Ironicamente, o amigo era
gordo. Gordo como um porco, na verdade! A barriga rotunda enojava ao menor
olhar! E a cada vez que ambos se encontravam, ele parecia estar mais gordo!
Ele, entretanto, preferia não comentar sobre isso. Nunca foi de reparar nos
defeitos alheios. Aliás, reparar, ele até reparava, mas preferia não comentar.
De qualquer maneira, ele estava gordo. E a cada novo encontro ele estava mais
gordo.
Gordo como um porco.
domingo, 25 de agosto de 2013
Apenas
Por favor,
Não insista.
Você não conhece os motivos
Que sustentam o receio
De quem prefere se afastar.
Você não sabe quais sentimentos
Podem, um dia, vir a nascer
Naquele coração onde, até então,
Nada existia,
Até você chegar.
Sim, eu sei
Quantas histórias bonitas,
Passíveis de eternidade,
Podem deixar de existir
Quando se escolhe não vivê-las.
Mas sei, também,
Que a proporção nunca se engana.
Que finais tristes são tão certos
Quanto a certeza de que tudo daria certo.
Por isso, por favor,
Não insista.
Chorei sua partida
Tal como choraria sua morte.
Por isso, hoje, caso pretenda voltar,
Não espere nada além daquilo
Que os vivos têm pelos mortos,
Ainda que estes tenham sido, em vida,
A razão de viver daqueles que ficaram
E não puderam fazer nada
Além de calar a própria tristeza.
Me disseram que, na verdade,
Eu estava mal acostumado,
Mas eu sempre soube o que sentia.
Não insista.
Você não conhece os motivos
Que sustentam o receio
De quem prefere se afastar.
Você não sabe quais sentimentos
Podem, um dia, vir a nascer
Naquele coração onde, até então,
Nada existia,
Até você chegar.
Sim, eu sei
Quantas histórias bonitas,
Passíveis de eternidade,
Podem deixar de existir
Quando se escolhe não vivê-las.
Mas sei, também,
Que a proporção nunca se engana.
Que finais tristes são tão certos
Quanto a certeza de que tudo daria certo.
Por isso, por favor,
Não insista.
Chorei sua partida
Tal como choraria sua morte.
Por isso, hoje, caso pretenda voltar,
Não espere nada além daquilo
Que os vivos têm pelos mortos,
Ainda que estes tenham sido, em vida,
A razão de viver daqueles que ficaram
E não puderam fazer nada
Além de calar a própria tristeza.
Me disseram que, na verdade,
Eu estava mal acostumado,
Mas eu sempre soube o que sentia.
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
domingo, 18 de agosto de 2013
Acalanto
Olha só, meu amor.
Envelhecemos.
Ainda moramos na mesma cidade,
Mas os lugares, veja você,
São tão diferentes.
Há resquícios do passado
Espalhados pelas avenidas,
Esquinas e ruas
Que mudaram de nome.
Há bancos de praça,
Postes antigos
E árvores centenárias.
Há pedaços do que fomos
E do que deixamos de ser,
Mas fora isso, tudo parece ter mudado.
Talvez tenha sido, senão,
Apenas o tempo que passou.
Mas nós, com nossa mania teimosa
De pensar que tudo será para sempre,
Do jeito que sempre foi,
Não percebemos que deixamos
E nem o que deixamos passar.
Por vezes eu me pergunto
Se o vento que sopra hoje
Ainda carrega as palavras,
Sonhos e promessas
Ditas naquele tempo distante,
Que nos fez dizer e acreditar
Na eternidade que quisemos
E tentamos tornar real.
Chega a ser irônico,
Pois de todas as coisas que quis,
Hoje eu só queria você aqui
Para envelhecer comigo
E escutar os meus lamentos.
Chega a ser irônico,
Pois ao contrário do que pensávamos,
O tempo nos permitiu envelhecer
Distantes um do outro.
E nós envelhecemos.
Envelhecemos.
Ainda moramos na mesma cidade,
Mas os lugares, veja você,
São tão diferentes.
Há resquícios do passado
Espalhados pelas avenidas,
Esquinas e ruas
Que mudaram de nome.
Há bancos de praça,
Postes antigos
E árvores centenárias.
Há pedaços do que fomos
E do que deixamos de ser,
Mas fora isso, tudo parece ter mudado.
Talvez tenha sido, senão,
Apenas o tempo que passou.
Mas nós, com nossa mania teimosa
De pensar que tudo será para sempre,
Do jeito que sempre foi,
Não percebemos que deixamos
E nem o que deixamos passar.
Por vezes eu me pergunto
Se o vento que sopra hoje
Ainda carrega as palavras,
Sonhos e promessas
Ditas naquele tempo distante,
Que nos fez dizer e acreditar
Na eternidade que quisemos
E tentamos tornar real.
Chega a ser irônico,
Pois de todas as coisas que quis,
Hoje eu só queria você aqui
Para envelhecer comigo
E escutar os meus lamentos.
Chega a ser irônico,
Pois ao contrário do que pensávamos,
O tempo nos permitiu envelhecer
Distantes um do outro.
E nós envelhecemos.
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Ironia
Você
Se apaixonou pelos meus defeitos,
E um dia, veja só,
Quem diria,
Por causa deles, foi embora.
Seria ironia
Se eu já não soubesse, desde sempre,
Que terminaria assim.
Se apaixonou pelos meus defeitos,
E um dia, veja só,
Quem diria,
Por causa deles, foi embora.
Seria ironia
Se eu já não soubesse, desde sempre,
Que terminaria assim.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
Paráfrase
Como disse aquele menino,
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Nele me inspiro quando digo
Que o que por ti foi cativado,
Existe para que não esqueças,
Em nenhum dos teus dias,
Da tua responsabilidade.
A distância não afasta.
O tempo não enfraquece.
Pois, quando se quer de verdade,
Não há desculpas que sirvam
Para deixar morrer tudo aquilo
Que os anos construíram.
Com as palavras de um nobre senhor, velho poeta,
Defino a essência, a forma e o conteúdo
Do sentimento que nos define:
"A amizade é um amor que nunca morre".
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas".
Nele me inspiro quando digo
Que o que por ti foi cativado,
Existe para que não esqueças,
Em nenhum dos teus dias,
Da tua responsabilidade.
A distância não afasta.
O tempo não enfraquece.
Pois, quando se quer de verdade,
Não há desculpas que sirvam
Para deixar morrer tudo aquilo
Que os anos construíram.
Com as palavras de um nobre senhor, velho poeta,
Defino a essência, a forma e o conteúdo
Do sentimento que nos define:
"A amizade é um amor que nunca morre".
sexta-feira, 2 de agosto de 2013
Mística
Essa é uma daquelas noites
Em que o vento, soprando serenidade,
Traz apenas coisas boas.
A graça do imprevisto.
O gosto bom da surpresa.
Uma roda de dois amigos.
Conversas.
Vivências.
Confidências.
Filosofia inocente,
Pura e despreocupada.
Nossos monstros,
Que durante o dia nos assombram,
Desaparecem na madrugada.
Nossas mágoas,
Diluídas no riso sincero,
Encontram conforto nas palavras.
Essa é uma daquelas noites
Em que o vento, soprando serenidade,
Traz aquilo que falta
Em todos os outros dias.
Em que o vento, soprando serenidade,
Traz apenas coisas boas.
A graça do imprevisto.
O gosto bom da surpresa.
Uma roda de dois amigos.
Conversas.
Vivências.
Confidências.
Filosofia inocente,
Pura e despreocupada.
Nossos monstros,
Que durante o dia nos assombram,
Desaparecem na madrugada.
Nossas mágoas,
Diluídas no riso sincero,
Encontram conforto nas palavras.
Essa é uma daquelas noites
Em que o vento, soprando serenidade,
Traz aquilo que falta
Em todos os outros dias.
quinta-feira, 25 de julho de 2013
...
Destino
É apenas um nome bonito
Pelo qual, às vezes, preferimos chamar
As consequências de nossos atos
É apenas um nome bonito
Pelo qual, às vezes, preferimos chamar
As consequências de nossos atos
sexta-feira, 19 de julho de 2013
Estranheza
Em meio à aridez dos dias,
Você percebe, com surpresa,
Que o acaso ainda existe.
Paixões,
Ainda que repentinas,
Não são impossíveis
Nem proibidas.
E o gosto das coisas imprevistas,
Doce, estranho e quase esquecido,
Assusta quem está acostumado
A alimentar-se do medo
E da rotina.
Seja um pouco bobo - disse a vida.
Às vezes é bom fechar os olhos,
Ignorar bons conselhos,
Desrespeitar a sabedoria.
Às vezes é bom se deixar levar, apenas existir,
Sem compromisso algum com a certeza,
Já que viver, em grande parte,
É permitir-se morrer em vida.
Quem diria...
Você percebe, com surpresa,
Que o acaso ainda existe.
Paixões,
Ainda que repentinas,
Não são impossíveis
Nem proibidas.
E o gosto das coisas imprevistas,
Doce, estranho e quase esquecido,
Assusta quem está acostumado
A alimentar-se do medo
E da rotina.
Seja um pouco bobo - disse a vida.
Às vezes é bom fechar os olhos,
Ignorar bons conselhos,
Desrespeitar a sabedoria.
Às vezes é bom se deixar levar, apenas existir,
Sem compromisso algum com a certeza,
Já que viver, em grande parte,
É permitir-se morrer em vida.
Quem diria...
quarta-feira, 19 de junho de 2013
Boa Sorte
Olhos bonitos não deveriam ser tristes,
Mas os seus, igualmente lúgubres e belos,
Contrariavam quem quer que assim pensasse.
Nunca compreendi o seu sorriso torto,
Quase cínico,
Nem o porquê de tanta angústia
Em um vida que sempre se mostrou perfeita.
Eu me apaixonei pela sua tristeza.
Eu e essa minha terrível mania
De ver beleza em dias nublados
E de buscar carinho em gotas de chuva.
Eu me apaixonei pela sua história,
Pois a minha, até então, ainda não existia.
Foram tempos bonitos.
Foram tempos difíceis.
Foram-se os nossos tempos.
Mil desculpas, por favor,
Mas seja forte,
Como hoje eu sou,
E boa sorte.
Mas os seus, igualmente lúgubres e belos,
Contrariavam quem quer que assim pensasse.
Nunca compreendi o seu sorriso torto,
Quase cínico,
Nem o porquê de tanta angústia
Em um vida que sempre se mostrou perfeita.
Eu me apaixonei pela sua tristeza.
Eu e essa minha terrível mania
De ver beleza em dias nublados
E de buscar carinho em gotas de chuva.
Eu me apaixonei pela sua história,
Pois a minha, até então, ainda não existia.
Foram tempos bonitos.
Foram tempos difíceis.
Foram-se os nossos tempos.
Mil desculpas, por favor,
Mas seja forte,
Como hoje eu sou,
E boa sorte.
terça-feira, 28 de maio de 2013
Natimortos
Eu vejo crianças
Presas e perdidas
Em sua própria liberdade.
São vítimas de seu próprio preconceito
E dos problemas que criaram
Enquanto procuravam por respostas.
Eu vejo um mundo árido,
Ácido, tóxico,
Quase morto.
Um mundo onde caminhos e referências
Acabaram se perdendo
Em meio a tantos descaminhos.
Onde virtudes,
Por vezes, inocentes,
São descartadas e carimbadas
Com a tinta negra do ridículo
Por não se encaixarem nas exigências da vida
E em seus conceitos invertidos.
Eu vejo bonecas de carne
E meninas de pano.
As ruas estão desertas de brincadeiras,
E estas, por sua vez, vazias de crianças.
Os adultos, encantados com seus brinquedos,
Não percebem que, a passos largos,
Seus pequenos bebem da violência e do descaso,
Enquanto o mundo, aos poucos, deixa-se morrer,
Preparando-se para receber aqueles que,
Natural e inevitavelmente,
Nascerão mortos.
Presas e perdidas
Em sua própria liberdade.
São vítimas de seu próprio preconceito
E dos problemas que criaram
Enquanto procuravam por respostas.
Eu vejo um mundo árido,
Ácido, tóxico,
Quase morto.
Um mundo onde caminhos e referências
Acabaram se perdendo
Em meio a tantos descaminhos.
Onde virtudes,
Por vezes, inocentes,
São descartadas e carimbadas
Com a tinta negra do ridículo
Por não se encaixarem nas exigências da vida
E em seus conceitos invertidos.
Eu vejo bonecas de carne
E meninas de pano.
As ruas estão desertas de brincadeiras,
E estas, por sua vez, vazias de crianças.
Os adultos, encantados com seus brinquedos,
Não percebem que, a passos largos,
Seus pequenos bebem da violência e do descaso,
Enquanto o mundo, aos poucos, deixa-se morrer,
Preparando-se para receber aqueles que,
Natural e inevitavelmente,
Nascerão mortos.
sexta-feira, 10 de maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
...
Ela era linda.
Ainda que de
maneira educada, e até gentil, ela riu do nome do livro que estava lendo. Ele,
por sua vez, riu da ignorância dela.
Ela era linda,
educada, gentil e ignorante, assim como quase todos os outros.
Ele jurou a si
mesmo que jamais desceria ao nível de outra pessoa novamente, pelo motivo que
fosse. Percebeu que não precisava rir dos próprios defeitos para ter o direito
de estar com alguém.
Na verdade,
nem sequer eram defeitos.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Pouco
- Você sente ciúmes de mim?
Com a expressão tranquila,
quase sonolenta, que geralmente trazia no rosto, ele repousou o queixo na palma
da mão, pensou por um breve instante e, entredentes, respondeu. - Hã... não...
- Seus olhos fitavam-na de uma maneira docemente despreocupada.
- Não?
- Não, ué...
Estava longe de ser a resposta
que ela esperava ouvir. - Então você não gosta de mim?
- Não foi isso que você
perguntou.
- Mas foi o que você
respondeu, só que com outras palavras.
- Como eu posso ter respondido
o que você não perguntou e, ainda por cima, com outras palavras? - Ele sorriu
ironicamente, mas sem descaso. Uma tentativa de não se aborrecer com aquele
joguinho que tanto detestava.
- Não desconverse, por favor!
Ele suspirou, fechou os olhos
e balançou a cabeça. Aborrecera-se, enfim.
Ela insistiu. - E se eu
ficasse com outra pessoa?
Uma pergunta daquelas, para
alguém que já está irritado, é como um tiro de suicídio. Sua resposta
limitou-se a um movimento com os ombros e um leve, porém expressivo pender de
cabeça.
- Pra mim, chega! - Ela se
levantou energicamente, tirou o anel de compromisso e o jogou na direção dele.
Saiu resmungando ofensas e mágoas incompreensíveis, chutando calçados e livros
pelo caminho. Por fim, ele ouviu o estampido seco da porta sendo violentamente
fechada.
Estava cansada de tanta
indiferença. Há tempos já não aguentava mais aquela passividade, aquele
estranho conforto. A tranquilidade que existia entre ambos, ironicamente, a
incomodava, e a segurança, não muito diferente do resto dos bons sentimentos, a
sufocava gentilmente. Precisava de aventuras, de brigas, de gritos. Precisava,
enfim, do famigerado tempero. Precisava de amor.
Mais do que tudo, precisava de
provas de amor, fossem elas o que fossem.
Ela disse que não voltaria, e
realmente não voltou.
No fim, tudo é mais ou
menos como aquela velha história do copo pela metade.
Afinal, ele está meio cheio
ou meio vazio? O pessimista amaldiçoa a própria sorte por ter um copo quase
vazio, enquanto o otimista alegra-se por ter um copo quase cheio. O realista,
entretanto, sabe que o copo não está nem meio cheio, nem meio vazio. O realista,
aliás, sequer importa-se com isso. Ele, simplesmente, sabe que ali há água, e
que isso é o que importa.
Faltou o ciúme, sim, mas
não faltou o amor, como ela preferiu pensar ao partir.
Na verdade, a falta não foi
o problema. O erro escondeu-se, justamente, naquilo que sempre sobrou entre os
dois: Confiança.
E entre faltas e sobras,
acabou por ser ignorado aquilo que, simplesmente, existia.
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