Olha só, meu amor.
Envelhecemos.
Ainda moramos na mesma cidade,
Mas os lugares, veja você,
São tão diferentes.
Há resquícios do passado
Espalhados pelas avenidas,
Esquinas e ruas
Que mudaram de nome.
Há bancos de praça,
Postes antigos
E árvores centenárias.
Há pedaços do que fomos
E do que deixamos de ser,
Mas fora isso, tudo parece ter mudado.
Talvez tenha sido, senão,
Apenas o tempo que passou.
Mas nós, com nossa mania teimosa
De pensar que tudo será para sempre,
Do jeito que sempre foi,
Não percebemos que deixamos
E nem o que deixamos passar.
Por vezes eu me pergunto
Se o vento que sopra hoje
Ainda carrega as palavras,
Sonhos e promessas
Ditas naquele tempo distante,
Que nos fez dizer e acreditar
Na eternidade que quisemos
E tentamos tornar real.
Chega a ser irônico,
Pois de todas as coisas que quis,
Hoje eu só queria você aqui
Para envelhecer comigo
E escutar os meus lamentos.
Chega a ser irônico,
Pois ao contrário do que pensávamos,
O tempo nos permitiu envelhecer
Distantes um do outro.
E nós envelhecemos.