Eu, tão madrugada,
Emprestei meu azul escuro
Ao vermelho da sua alvorada.
Ao verem o púrpura,
Matiz pura de nossa mistura,
Nós os ouvimos sussurrarem:
"Ora...
Mas das cores que tingem os sentimentos,
Esta não pinta o amor,
Apenas a dor e o sofrimento..."
E nós apenas silenciamos e rimos,
Pois eles não sabem do que somos feitos.
***
Eu, rio de água fria, hoje recebo você,
A mesma lava escaldante que fui um dia,
Formando, em meio à fumaça,
Novas rochas, pontes e ilhas.
No terreno recém-nascido,
Vigora uma árvore, ainda vazia,
Que não tardará a ser preenchida
Pelas flores e frutos de nosso encontro.
E que com as raízes fincadas na pedra,
Só poderá deixar de existir
Quando a terra na qual se firma
Também perder sua existência.