domingo, 28 de dezembro de 2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Fogo Amigo

Não houve sangue,
Apenas lágrimas.

Na mão do outro, a injustiça,
Dura e fria como um punhal
Feito de palavras afiadas.

"Foi emboscada..."
Disseram os sentimentos,
Que atraídos e traídos pela confiança,
Cometeram o terrível engano
De acreditar na própria esperança.

Escapou por um triz
De morrer com um sorriso no rosto,
Pois ainda há pouco, antes da morte,
Vivia a mais feliz das mentiras.

E ter razão não lhe trouxe conforto,
Pois longe de querer estar certo,
Só queria viver em consenso
Com aquilo que pensou ser de ambos.

Ah, amigo...
Quem dera tivesse sido
Somente e apenas fogo,
Pois maior que a dor do ferimento,
Foi a de saber por quem foi ferido.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Eclipse


Minha última estrela
Tornou-se eclipse.

Sei que a escuridão não é eterna,
Mas nesse breve lapso de penumbra,
Perde-se muito além do brilho.

Perde-se, na verdade,
Tudo aquilo que não pode ser visto
E, muito menos, recuperado.

***

Minha última estrela
Tornou-se eclipse.

Levando consigo o que havia em mim
E tudo o que, juntos, havíamos construído.

Não houve mais luz, desde então,
Para vermos nossos velhos caminhos,
E quando, enfim, voltou a bilhar,
Sua luz havia mudado.

De resplandecente, virou ponto opaco.
E seu calor, mensageiro da vida,
Era, agora, fraco e desnecessário.

Meu mundo, que orbitava tão próximo,
Morreu no exato momento
Em que a sombra tocou seu solo.

E os que ali viviam,
Ficaram sem saber
O que viria a nascer
Depois de tudo aquilo.

***

Estrela negra...
Que mesmo sem querer,
Anunciou a alvorada
De todas as coisas mortas.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Depois do Fim


Quando todos se foram,
Nós ficamos.

Quando nada mais restou,
Nós criamos.

E dos restos que fizeram de nós dois,
Fizemos o que ninguém nunca será.

***

Sem desistir, sem recuar.
Sem deixar ninguém para trás.
Sem ficar pelo caminho.

Nós somos aqueles
Que não têm medo de querer
O que assusta a todos os outros.

Nós somos aqueles
Que em meio à chuva de bombas,
Morrem abraçados ao canhão.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Púrpura



Eu, tão madrugada,
Emprestei meu azul escuro
Ao vermelho da sua alvorada.

Ao verem o púrpura,
Matiz pura de nossa mistura,
Nós os ouvimos sussurrarem:

"Ora...
Mas das cores que tingem os sentimentos,
Esta não pinta o amor, 
Apenas a dor e o sofrimento..."

E nós apenas silenciamos e rimos,
Pois eles não sabem do que somos feitos.

***

Eu, rio de água fria, hoje recebo você,
A mesma lava escaldante que fui um dia,
Formando, em meio à fumaça,
Novas rochas, pontes e ilhas.

No terreno recém-nascido,
Vigora uma árvore, ainda vazia,
Que não tardará a ser preenchida
Pelas flores e frutos de nosso encontro.

E que com as raízes fincadas na pedra,
Só poderá deixar de existir
Quando a terra na qual se firma
Também perder sua existência.