Nasceu de uma fábula estranha,
Sem animais ou lições de moral,
E mesmo assim se transformou
Em algo que não era humano.
Em seu coração de pedra parada,
Brotou o musgo da água tranquila,
Que sob a forma de lágrimas contidas,
Vertia como fonte por dentro do peito.
Em seu coração de pedra parada,
Brotou o musgo da mentira...
E ele chorou... Ah, como chorou...
Quando teve de ver partir
Quem nem ao menos havia chegado.
E seus olhos, desde então, ficaram secos.
Secos como o próprio sangue,
Que há muito não corria eu seu corpo.
Viu escapar de seus braços
O vermelho vivo que tanto queria,
Sem saber se era ceda, cetim ou a própria vida,
E foi embora com desculpas
De quem nada desejava.
Foi embora com a vergonha
E com todas as cicatrizes que carregava.
Ah, se ela soubesse...
Se ela soubesse da dor que ele levou,
Impedindo que ela sentisse.
Ah, se ela soubesse...
Da vergonha que ele a privou
E do peso que a livrou
Por comprar algo de olhos fechados.
Ele teria sido o poeta
De sua poesia bruta, sem rimas,
Mas preferiu ser o ponto oposto
De uma trajetória infinita.
Viveu de desdém e uvas verdes,
Nunca querendo o que mais queria.
E antes de enclausurar-se em si mesmo,
Olhou para o céu e disse ao vento,
Oferecendo o reles poema:
"A todos os que também viraram pedra
Por não poderem mais ser carne."
O que restou foi o sonho ingênuo
De um futuro que queria ser seu.
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