O desapego custa caro.
Um bom sentimento.
Uma amizade verdadeira.
Um passado inteiro.
Preços incertos e abusivos.
Há, é claro, quem chame de egoísmo,
Pois grandeza de caráter,
E de espírito,
Seria seguir em frente, tranquilo,
Sem jamais olhar para trás.
Mas quem diz isso, talvez,
Nunca tenha realmente sentido
Tudo aquilo que se sente
Quando a alma se parte ao meio,
Deixando um dos pedaços perdido
E o outro a apodrecer.
A coragem, da qual tanto se fala
E que se faz tão necessária
Para, enfim, deixar partir,
Não é nada além de desespero.
Pois coragem, mesmo, houve enquanto existiu esperança.
Enquanto a insistência, surda aos apelos da dor,
Acreditou que era possível.
Mas a perseverança,
Sobrepondo-se ao amor-próprio,
Resistiu por muito tempo,
Até que, em meio ao sofrimento,
Sucumbiu à revolta.
E a superação,
Mentira carinhosa, pintada de honra,
Preencheu o coração daqueles que ficaram.
O desapego, deixando de ser escolha,
Passa a ser imposição.
Da mágoa, restou a força.
Do amor, o ódio sereno.
Fotos rasgadas.
Lembranças destruídas.
Troféus de uma vitória amarga e silenciosa.
Sobrou o olhar duro e determinado.
O rosto fechado.
O peito vazio.
O que se perdeu, já não importa,
Pois o resto é apenas desapego.
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