quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Treze Dias


   Escreveu em francês porque achava bonito, embora não soubesse coisa alguma daquele idioma. Nada, é claro, que uma rápida olhada no dicionário e um pouco de raciocínio não pudessem resolver. Organizou a frase, separou as palavras, traduziu-as uma a uma e, por fim, reorganizou sua sentença. Logo, o papel estava recebendo aquelas palavras transformadas, carregadas de um sentimento que seria comum a qualquer falante de qualquer língua, em qualquer lugar do mundo, desde que, é claro, houvesse experimentado a sensação que ele experimentara ao viver a razão daquele bilhete.

   - Vous êtes mon meilleur repentance... - Disse ele, forjando um sotaque, enquanto lia o que havia escrito.

   De certa forma era algo bobo, e ele sabia, mas não se importou. Riu sozinho quando lembrou que, assim como ele, ela não falava francês, por isso teria de traduzir a frase. E isso, muito longe de tirar o impacto pretendido, traria um pouco mais de emoção. Seria como uma mensagem secreta, criptografada, que enche de brilho os olhos daquele que, orgulhoso de si mesmo, consegue decifrá-la, além, é claro, de se surpreender com o conteúdo que lhe foi revelado.

   Quando ela finalmente compreendesse a mensagem, ele já estaria longe. Teria partido na noite anterior à descoberta do bilhete, colocado cuidadosamente entre as páginas do livro que ela ainda estava lendo. Não havia como adiar a partida. Não havia como ficar. E sendo tão conhecedor de seus próprios sentimentos, brincou mais uma vez, na tentativa de aliviar a dor que começou a se formar no dia em que ele a conheceu: a de saber que seu tempo era curto, limitado e consciente de quando acabaria.

   - Você é o meu melhor arrependimento... - Ele sussurrou ao bilhete antes de dobrá-lo, tentando fixar o sentido original do seu sentimento naquele pedaço de papel.

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