A lixeira não era da sua casa, e o cachorro não era seu. O cachorro, aliás, era um cachorro de rua, um vira-latas. Ainda assim, ele se viu na obrigação de fazer alguma coisa. E fez.
- Saí daí, cachorro! - Disse ele, e em seguida fez aquele barulho estranho que as pessoas sempre fazem quando querem espantar um cachorro. Aquele, que parece um beijo dado no ar, mas que não chega a ser.
O cachorro, coitado, ainda com os pedaços de sacola plástica na boca, não logrou êxito em seu furto famélico. Correu e deixou para trás o aroma atraente de alguma possível refeição escondida naqueles sacos de lixo.
O homem, por sua vez, sentia-se grato consigo mesmo. Não haveria lixo nas ruas. Não naquela calçada, pelo menos.
E quando se preparava para seguir seu caminho para o trabalho, voltou os olhos para a mesma lixeira de onde expulsara o cachorro há instantes.
Discretamente, aproximou-se. Olhou para ambos os lados, certificando-se de que não havia ninguém observando e, com um um movimento rápido - ao menos para ele, pois levou alguns segundos para executá-lo -, rasgou uma sacola e desenroscou uma tampinha plástica de uma garrafa. Uma daquelas que somam pontos para uma promoção qualquer.
Olhou para os lados novamente e guardou a tampinha no bolso da jaqueta.
O cachorro? Não, não. Ele nem lembrava mais dele. Estava ansioso para chegar em casa e digitar o código que lhe dava direito à participação naquela promoção, a da tampinha premiada.
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