domingo, 27 de setembro de 2015

...

 - Você já passou por isso?
 - Pelo quê?
 - Por esses momentos de reflexão tão fortes que chegam a te deixar sem fôlego...
 - Talvez... Como assim? Fale mais...
 - Eu não sei... É o absurdo da vida, ou melhor, o absurdo que é a vida! Olha só, agora nós temos vinte e poucos anos, mas ontem nós tínhamos dez, e quando digo ontem, a coisa vai além da poesia, da mera figura de linguagem, porque se você fechar os olhos agora, vai se lembrar de quando estava na quarta ou quinta série como se fosse, literalmente, ontem... Vai lembrar até do cheiro da casca de lápis, das carteiras recém limpas pelas funcionárias... Enfim... Temos vinte e nossos pais têm quase cinquenta, mas amanhã nós teremos quase cinquenta e eles, talvez, nem existam mais... Não dá uma vontade louca de sair correndo, entrar em casa com oito anos e voltar à época em que você não sabia que nada disso ia acontecer? Quando se é criança, aprendemos que, um dia, vamos morrer, mas é um aprendizado meio falso, pois só repetimos essa certeza sem saber, ou melhor, sem realmente entender o que ela quer dizer e o quão certeira ela se tornará... Sei lá... Eu penso demais! Quem serão meus filhos? E a minha esposa? Eu vou ter câncer? Vou morrer nesse final de semana? Meu deus... Meu deus... Qual é o sentido disso tudo? Às vezes a impressão que se tem é a de que o segredo da vida é, justamente, não saber o que ela é... Meu deus... Eu preciso viver... Quer namorar comigo?

 Ela riu. Estava com um pouco de lágrimas nos olhos, mas riu. - Você fez todo esse discurso só pra pedir isso?
 Ele não respondeu. Seus olhos também estavam marejados, mas ele não sorria.
 Abraçaram-se, beijaram-se e selaram com o silêncio uma questão que, mesmo sendo comum a todos, possuía uma resposta única, totalmente individual para cada um que se atrevesse a perguntá-la.

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