sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Febre

Quando acordei,
Você já havia ido embora.


Enquanto eu dormia,
Segurou minha mão.
Esteve comigo
Na febre e nos delírios.

Esteve comigo
À beira da insanidade.


Eu, de olhos fechados,
Imerso em pesadelos,
Sentia sua mão em meu braço
E sua voz em meu ouvido,
Dizendo que tudo acabaria bem.

Eu, no escuro,
Seguia seus passos,
Sua trilha de barbante,
A qual a escuridão não conseguia devorar.


E por vezes,
Quando em intervalos eu acordava,
Você me olhava nos olhos.
E, ao mesmo tempo,
Sorrindo e compadecendo,
Me dava um beijo sereno,
Repousava a mão em meu rosto
E me pedia para ter calma.

Pois tudo, um dia, passaria.

E tudo passou.

Você se foi
E eu acordei.


Sentado na cama, chorei.
Me agarrei ao que pude,
Enquanto tentava, em vão, entender
Por que o tempo fizera aquilo.

Por que tantos desencontros?
Por que tantos desacertos?

Por que o sentimento,
Até então, eterno e perfeito,
Sucumbiu à razão?

A amizade dilacerada.
O amor desvanecido.

Um quarto estranho e vazio,
Cuja porta, trancada por uma chave perdida,
Fez de duas peças de uma mesma casa,
Dois universos intangíveis.


Sobrou, na estante,
Uma lustrosa coleção de erros.
E em uma gaveta qualquer,
Jazem, escondidos, os acertos.


Sobraram malas, bolsas e mochilas,
Carregadas de mágoa e culpa.
Bagagem das viagens que não fizemos.

Sobraram, como sempre sobram,
Sentimentos inexpressados
E muitas palavras não ditas.


Enfim, despertei.

Quis mostrar a você
Tudo aquilo que vi nos sonhos.

Tentei dizer que, finalmente,
Estava lúcido e consciente,
Mas não te encontrei.

Ao despertar, tateei o espaço ao meu lado.
Senti, além da cama vazia,
Um vazio maior ainda.



Você já havia ido embora quando eu, finalmente, acordei.

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