sábado, 10 de novembro de 2012

Meia Noite e Dez

   Aquele número não estava na sua lista de contatos. Sua curiosidade fez com que a interjeição saísse com ar de pergunta. - Alô?

   - Oi... - A voz no outro lado da linha ainda era exatamente como ele lembrava ser. Suave, delicada, quase infantil. Naquele momento, estava levemente carregada de uma estranha entonação, a qual conhecia muito bem, mas não conseguia identificar agora.

   - Aconteceu alguma coisa? - Perguntou ele, achando que seria uma boa saída para manter o fluxo da conversa, sem demonstrar nada a mais ou a menos do que pretendia.

   - Não, não... Tá tudo bem... - Ambos fizeram silêncio por alguns segundos, até ela recomeçar. - É que, na verdade, eu queria te dar de volta o anel que você me deu aquele dia...

    O anel.

   Após alguns anos de namoro, quando os ponteiros de ambos pareceram finalmente se acertar, ela deu a ele um anel de prata. Joia de família, segundo ela, que estava há anos guardada, mas que tinha um valor sentimental muito grande. Como ela mesma disse, aquele anel seria a representação de uma nova fase para eles. Um recomeço que os levaria a todos os lugares possíveis, exceto ao fim, como acontecera nas outras vezes.

   Esse mesmo anel fora devolvido por ele, quando o fim, que o próprio anel garantiu que não chegaria, acabou chegando. Era muito para ele. Não conseguiria olhar para aquele objeto de maneira indiferente, todos os dias, sem que lembranças lhe viessem à mente. Preferiu devolver, apagando, assim, qualquer possibilidade de esperança, por mais remota que pudesse ser. Além do mais, ela havia deixado claro que seus sentimentos, infelizmente, já não eram mais os mesmos por ele. Ela estava cansada, indisposta a tentar mais uma vez. Lamentou e desculpou-se na ocasião, mas afirmou que nada podia fazer a respeito. Ele teria de saber o que fazer com o que ainda sentia por ela.

   Enfim, conseguiu definir a estranha e singular entonação que havia sentido em sua voz, no começo da conversa: Um misto de arrependimento, mas sem ser amargo, com um orgulho leve, quase birrento, como uma criança que, após muito relutar, acaba aceitando uma condição imposta pelos pais. Ele podia imaginá-la, parada em pé, junto ao telefone, um pouco cabisbaixa, segurando o aparelho com as duas mãos, ou, talvez, brincando de enrolar e desenrolar o fio espiralado, enquanto seus olhos focavam em um ponto qualquer no chão, como se procurassem um lugar para se fixar ou se esconder.

   - Devolver? Por quê? Aliás, por que isso agora?

   - É que é difícil ficar com ele...

   Ele riu e falou entredentes. - É... Eu sei...

   Agora reinava um silêncio longo e pesado, daqueles que imploram para que alguém diga qualquer coisa, para que se possa, enfim, seguir em frente.

   - É que eu ainda te amo... Às vezes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário