terça-feira, 27 de novembro de 2012

Vida Nova

O tempo passa,
A poeira senta.

O coração acalma.
A mente arrefece.
 
A visão, antes turva, mostra fatos novos, mas já conhecidos.
Não são novos, na verdade, mas sim, ignorados.
Ignorados pelo sentimento.
Pelo querer sem pensar.

É fato...
Para sentir, deixa-se de lado a razão,
Mas há quem abuse disso, vendo apenas o seu lado.
Escondido no conforto da covardia.
Deliciando-se com a sensação de vingança.

E é então que você percebe...

Os inocentes não são, assim, tão inocentes.
Os inocentes, inclusive, são tão culpados quanto os próprios criminosos.

E os culpados, criminosos ou não,
São tão inocentes como qualquer outra vítima dessa história.
São tão inocentes, aliás, como jamais alguém poderia imaginar.
Ou aceitar.
Ou admitir.

Você percebe que também tem mágoas.
Você percebe, aliás, que tem o direito a tê-las.
Você percebe, ainda, que não só pode, como deve tê-las,
Pois são elas que te guiarão de agora em diante.

Não... Não há necessidade de cantá-las aos quatro ventos,
Tampouco de, com elas, dilacerar o rosto de quem te ofendeu.
Mas é importante guardá-las, pois, quando chegar a hora,
E ela sempre chega,
Serão suas armas e sua carta de despedida.
Serão o escudo e a armadura que te protegerão na nova caminhada.

Você percebe que há, sim, quem entenda seus erros e motivos,
Mas que, ainda assim, prefira olhar para o outro lado.
Para o lado de dentro, de si próprio.
E que a mão, a qual você pensou estar estendida,
Agora segura firmemente o braço de outro alguém.

Você percebe que já não há espaço para você,
Pois uma nova vida ocupa muito mais do que se tem em mãos.



O amor, quase cego, totalmente focado e dedicado,
Aos poucos, subverte-se.

O belo se transforma em grotesco.
O abandono, o descaso e a indiferença
Apenas alimentam o monstro que cresce,
Dia após dia,
No peito de quem ficou.


Você percebe, enfim, que você é muito mais do que dizem as línguas alheias.

Seus erros, imperdoáveis, são, sim, dignos de perdão.

E das vezes em que você se ajoelhou, só resta a vergonha.
Pois aquele a quem você se dedicou, em sua alcova, regozija-se de prazer.

"Ah, agora é a minha vez..."



Você percebe que pode,
E precisa,
Trocar abraços por comprimidos.

Beijos e carinhos, por olhos duros e lábios cerrados.

Noites de sono, por madrugadas febris e insones.

A saudade pela resignação dolorosa.



Você percebe, enfim, que os mais velhos estavam certos.
E na memória, vem aquela voz, já cansada, mas repleta de experiência:

"É assim mesmo, minha pequena... Vão-se os livros, mas ficam as histórias... O medo devorou o coração dele, assim como devorou, por inteiro, a vida que deveria ser de vocês dois... Não o culpe pela covardia, afinal, ele só queria viver... Mas nunca esqueça, linda menina, que desistir, seja pelo motivo que for, jamais deverá ser motivo de perdão..."

E arrematando, o velho diz:

"Guarde seu coração nessa caixa, antes que um novo lobo sinta o cheiro e o devore, e deixe-o sangar até que esteja curado."



Você percebe que o maior dos medos, ao contrário do que você sempre pensou, nunca foi seu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário