sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Amigo


Essa conquista é sua,
Meu amigo.

Que com explicações tortas,
Simplesmente foi embora
Quando eu mais precisei.

Marinheiro novato,
Abandonou o navio, temendo o naufrágio,
Sem sequer ter a certeza
De que ele viria a naufragar.



Sua covardia, meu amigo,
Me alimentou por um bom tempo.

Os amigos que você tinha ao partir,
Postos, sem cerimônia, em meu lugar,
Hoje eu também tenho.

E ainda que agora os tempos sejam outros,
Sua ausência, por vezes, incomoda.
Sua traição, sem tréguas, desde então,
Reacende, dia após dia, a mesma mágoa.

Traição, aliás, vestida de descaso,
Pois quem corre sem olhar para trás,
Sabendo das coisas que deixa,
Veste o manto do traidor
E acostuma-se a usá-lo.



Ah, amigo...
Como eu queria que me visse agora.
Como eu queria que visse
Que cheguei onde, um dia,
Imaginei estarmos.

Nossas vitórias, veja só,
Não são mais nossas.

Não há glória alguma a ser dividida.

E sobre a saudade, como já disse,
Às vezes ainda bate,
Mas quando lembro de suas palavras,
A velha cicatriz, sempre recente,
Põe-se a latejar.

A carne, ainda viva,
Chora gotas de desgosto,
Num pranto lento e silencioso,
Em lágrimas de um sangue amargo.



Essa vitória, amigo, é para você,
Que há tempos deixou de merecer
Qualquer coisa maior ou além
De um lugar qualquer no passado.

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